quarta-feira, 4 de julho de 2012

ODU TORNA-SE IAMI


Nos primórdios da criação, Olodumarê, o Ser Supremo que vive no orun, mandou vir ao ayê (universo conhecido) três divindades: Ogum (senhor do ferro), Obarixá (senhor da criação dos homens) (2 - Um dos orixás funfun, isto é, orixás que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas; em algumas regiões Obarixá é adotado como um cognome de Oxalá) e Odu, a única mulher entre eles. Todos eles tinham poderes, menos ela, que se queixou então a Olodumarê. Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (igbá eleiye) e ela se tornou então, através do poder emanado de Olodumarê, Iyá Won, nossa mãe para eternidade (também chamada de Iami Oxorongá, minha mãe Oxorongá). Mas Olodumarê a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela, sob pena de ele mesmo repreendê-la.
Mas ela abusou do poder do pássaro. Preocupado e humilhado, Obarixá foi até Orumilá fazer o jogo de Ifá, e ele o ensinou como conquistar, apaziguar e vencer Odu, através de sacrifícios, oferendas e astúcia.
Obarixá e Odu foram viver juntos. Ele então lhe revelou seus segredos e, após algum tempo, ela lhe contou os seus, inclusive que adorava Egum. Mostrou-lhe a roupa de Egum, o qual não tinha corpo, rosto nem tampouco falava. Juntos eles adoraram Egum.
Aproveitando um dia quando Odu saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egum. Com um bastão na mão, Obarixá foi à cidade (o fato de Egum carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas. Quando Odu viu Egum andando e falando, percebeu que foi Obarixá quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Egum e a Obarixá, conformando-se com a supremacia dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Egum, e lhe outorgou o poder: tudo o que Egum disser acontecerá. Odu retirou-se para sempre do culto de Egugun.
O conjunto homem-mulher dá vida a Egum (ancestralidade), mas restringe seu culto aos homens, os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olodumarê através dos abusos de Odu. Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente, e somente os homens têm direito à individualidade, através do culto de Egum.

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